sexta-feira, 19 de junho de 2009
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Da Redação
Frustrações profissionais no dia-a-dia são algo normal. O problema é quando se torna rotina a ponto de deflagrar a síndrome de burnout, uma condição de estresse e desânimo extremo com o trabalho.
O mal já acomete 30% dos trabalhadores brasileiros, mostra uma pesquisa recém-concluída pela International Stress Management Association no Brasil.
Trata-se de uma exaustão mental e física que se inicia com um sentimento de injustiça e falta de reconhecimento, descreve a psicóloga Ana Maria Rossi, que preside a instituição.
Por fim, evolui para ineficiência e acomodação. Queda de rendimento, absenteísmo e dificuldade de concentração acompanham a tal síndrome. Não raro, o descontentamento resulta em gastrite, depressão, sem falar no impacto negativo no ambiente profissional.
"A síndrome de burnout é uma doença séria que requer tratamento psicoterápico e, em alguns casos, medicamentos", alerta Ana Maria.
Que muitos professores sofrem de estresse não é novidade. Do que pouca gente se dá conta é da gravidade do problema. Gisele Levy fez uma pesquisa pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e descobriu que 70% dos professores de cinco escolas de Ensino Fundamental de Niterói (RJ) apresentavam sintomas da Síndrome de Burnout (expressão em inglês para perda do fogo ou da energia). E pior: conversando com os educadores, percebeu que eles consideram isso como algo normal da profissão!
Por não constar ainda no Código Internacional de Doenças, Gisele, assim como outros pesquisadores, considera a Síndrome de Burnout como um estresse ocupacional crônico, um fenômeno que ocorre diariamente e está relacionado ao trabalho. É o que justifica o afastamento de função. Afinal, o que é essa síndrome? Os principais sintomas são: exaustão emocional, falta de realização pessoal e despersonalização. No caso da Educação, os profissionais precisam lidar o tempo todo e diretamente com crianças e jovens em formação. "E na medida em que surgem falhas, como a violência, o desrespeito e a falta de instrumentos de trabalho, o relacionamento com os alunos fica afetado", explica Gisele. 86% do total de professores que responderam à pesquisa se sentiam ameaçados em sala de aula. "Tanto em regiões nobres quanto pobres, a sensação de ameaça e medo da violência de dentro e fora da escola é grande", conta.
Resultado: o professor começa a ficar extremamente cansado (física e mentalmente), perde a paciência com os alunos, falta ao trabalho e adquire comportamentos que nem ele percebe a princípio. "Todos os relacionamentos interpessoais ficam prejudicados, até os familiares, amorosos", completa a pesquisadora. É a despersonalização. Há um distanciamento dos outros, de uma maneira geral. O professor entra na sala, mas é como se não estivesse lá. Faz o básico e vai embora. "Ele sente que não pode resolver tudo na classe, dar todas as soluções, e começa até a não usar os conhecimentos que possui", resume.
De acordo com a pesquisa, os educadores que mais sofrem da síndrome são os mais jovens, porque aos problemas soma-se a inexperiência, e os mais apaixonados pela profissão, que a vêem como realização pessoal. Ao contrário do que se possa dizer no cotidiano escolar, quando alguém pede afastamento do cargo, isso não deve ser encarado como um evento natural. Os outros professores, a escola e a secretaria de educação precisam ficar atentos às condições de trabalho e ao efeito delas na saúde dos profissionais. O estresse é uma doença crônica que exige tratamento e que, se não for levada em consideração, pode gerar outras complicações, como problemas cardíacos e alcoolismo. Quem apresentar alguns dos sintomas citados precisa procurar a avaliação de especialistas. Importante dizer que o desenvolvimento da Síndrome de Burnout também é influenciado pela história de vida da pessoa afetada, pelo modo como ela lida com os problemas, entre outros fatores.
Apesar dos resultados tristes, a pesquisadora é otimista: "precisamos entender o problema e dividir as soluções: tratar da doença do professor, valorizá-lo no ambiente escolar e fora dele e criar políticas públicas que melhorem as condições de trabalho". Sugiro uma reflexão: será que podemos continuar aceitando que os professores, cada vez mais divididos entre o que querem e o que, de fato, conseguem fazer nas salas de aula, cheguem ao ponto de pedir afastamento e até demissão?
NOVA ESCOLA ED 211 2008
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